José Ramón Magarzo, Presidente Executivo de Altran Portugal
No ano 2000 iniciaram-se diversas acções para transformar a União Europeia na economia do conhecimento mais competitiva do mundo num prazo de dez anos. Entre elas, um dos objectivos marcados foi que cada país investisse 3% do PIB em actividades relacionadas com I+D+i. Entretanto, e chegados já a 2010, Portugal continua ainda longe desta meta proposta pela União Europeia, e longe também do 1,8% proposto pelo estado português.
O gasto português em I+D aumentou entre 2003 e 2008, passando de 0,82% do PIB gasto em inovação, para 1,51%, sendo o estado ultrapassado pelas empresas no que ao investimento em I+D diz respeito. É visível um claro crescimento na aposta em I+D, no entanto continuamos longe da média de 2,3% dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.
Em 2007, a UE dedicou um total de 229.000 milhões de euros à I+D, 45% dos quais concentraram-se em dois países: Alemanha (62.000 milhões de euros) e França (39.000 milhões). Precisamente agora, estes países são os que já mostram claros sinais de recuperação da crise económica, enquanto Portugal, com uma previsão de 11% de taxa de desemprego pelo FMI, parece continuar a ter um longo caminho para contornar este período de recessão.
O que aconteceu? A incidência directa da inovação na melhoria da economia é cada vez mais clara. Numerosos estudos reflectem que as organizações que apostam na inovação contam com um crescimento maior e mais rápido. E quando falo de inovação não me refiro unicamente a produtos ou tecnologia. A inovação aplicada a novos modelos de negócio, novas metodologias de trabalho. Refiro-me a inovar no dia-a-dia das empresas, tanto desde o ponto de vista das TIC, como da gestão.
Segundo o relatório da Competitividade Global 2009-2010, publicado pelo “World Economic Forum” Portugal manteve o 43º lugar, acompanhando talvez a estagnação económica global e até o retrocesso de muitas economias próximas de Portugal.
A inovação é a chave para a recuperação económica. O passado ensina-nos isso mesmo. Foram os grandes saltos tecnológicos que criaram novos produtos, novos mercados, novas necessidades, novos clientes. Atribuir verbas para o I+D tem que ser visto claramente como um investimento e não como uma simples forma de gastar dinheiro. No futuro serão as empresas inovadoras que estarão mais preparadas para encarar eventuais adversidades ou retrocessos, pois estas têm o conhecimento, tem a visão, não promovendo uma simples cópia do que se faz ao lado. E inovar não pode ser exclusivo das empresas tecnológicas. Devemos ser capazes de ter a visão que inovar aumenta a capacidade competitiva real, sendo um aspecto fulcral desde a estratégia global, passando pelo marketing, RH, departamentos financeiros e a própria concepção de produto/serviço. A inovação é chave, mesmo nas PME’s que tem um importante papel na economia portuguesa representando 99,6% do tecido empresarial, segundo dados estatísticos do INE.
O desafio para Portugal é saber aproveitar e valorizar este aumento de investimento na investigação (não podendo parar por aqui) para uma aumentar a sua produtividade e competitividade para responder positivamente aos mercados, de si cada vez mais competitivos, onde este aspecto será chave para o sucesso ou insucesso de uma empresa e de um país.
Se Portugal quer sair desta situação, devemos trabalhar em medidas para a incorporação do conceito de inovação cada vez mais enraizado dentro da cultura empresarial portuguesa. Num momento de máxima concorrência, em que os mercados e os consumidores se transformam continuamente, as empresas devem não só adaptar-se à mudança, mas sim adiantar-se aos concorrentes e repensar, desde o ponto de vista da inovação, até ao mínimo detalhe o seu funcionamento.
* Fontes: Global Technology Report e Relatório de Competitividade Global 2009-2010 apresentado pelo Fórum Económico Mundial